2.2.09

Alta competição


Corre, corre. Não pára, não olha, não abranda. Este és tu. Esta sou eu. Este é o mundo.
Somos todos atletas, queremos todos uma medalha, um lugar no pódio. Os nossos treinos diários envolvem quedas, envolvem sangue, envolvem lágrimas de suor que o esforço espremeu. Vemos a meta, ao longe, e
sprintamos. Mas, ironicamente, ela parece tremer cada vez mais longe. Começamos a sentirmo-nos fracos, sedentos, famintos da vitória que nos tínhamos prometido a nós mesmos...e nada nos impede de continuar. Estamos na pista para vencer e morreremos a tentar. Surdos, semi-cegos e mudos, corremos.
Não paramos. Não, não olhamos. E por não abrandarmos não nos damos conta de que os outros atletas ficaram para trás. Desistiram, caíram. Alguns ainda nos tentam acompanhar, acabando por desistir. E então morre o jogo. Sem adversários deixa de haver competição. Sem competição, o prémio deixa de ter sentido. Sem prémio, deixamo-nos desmaiar no chão e ficamos na demência.

Com sorte, alguém que nunca deixou de nos seguir chama uma ambulância.

1 comentário:

Ivan Mota disse...

Muito obrigado Maria. Ainda não me tinha apresentado.. Ivan, o prazer é meu.

O teu texto está pleno de sentido e oportunidade. Uma ode à vida que devia premiar os lutadores, os tenazes em prejuízo dos parasitas que vivem ou à custa de terceiros ou à custa de meios pouco lícitos. Gostei muito.