30.12.08

Boneca de trapos


Aconteceu sem eu dar conta, sem eu querer. Um dia dormias em cima dos meus livros, na mesa da cabeceira e cantavas para o meu sono. No dia a seguir, perdi-te. Em cima dos livros ficou o vinco feito pelas tuas calças de ganga.
Procurei-te, como tantas outras vezes. Já te tinha perdido, lembras-te? Ia encontrar-te sempre na mesma esquina do quarto, debruçada sobre o pó a contar histórias aos ácaros. Mas desta vez não estavas lá. Nem debaixo da cama. Nem dentro do armário. Nem ao pé da almofada. Perdi-te de vez. Nem sei se fui eu que te deixei cair ou se foste tu que fugiste, memória opaca e inútil a minha.
Agora, à noite, não consigo dormir. O ar é tão leve sem o teu respirar que parece não existir. Mas já vasculhei em toda a parte e não há sinais de ti. Só me resta assobiar para que venhas ter comigo.