Aos domingos gosto de acordar cedo, pouco depois do despertar da aurora. Puxo a roupa da cama até ao nariz e deixo-me ficar deitada durante uns minutos secos, ocos. Um feixe de luz pálida atravessa a fina friesta entre os cortinados. Timidamente, vai avançando na madeira até atingir a zona do cobertor por cima dos meus pés.
Acabo por me levantar. Caminho no meu pijama cor-de-rosa de flanela, muito lentamente. A casa também está agora a acordar: solta pequenos suspiros de dor em sincronia com os meus passos. Lembro-me então de quando era pequena e gostava de terminar aqueles minutos de preguiça matinal na cama dos meus pais. Abria com muito cuidado a porta, em bicos-dos-pés (agora ela parece-me tão pequena), mas acabava sempre por ser denunciada pelo seu chiar agudo. A minha mãe, sempre de sono leve, abria instantaneamente os olhos e sorria. Voltava a fechá-los para depois se chegar mais para a pontinha da cama, criando assim um pequeno nicho entre ela e o meu pai, para onde eu subia. Mais tarde, o meu irmão descobriu esta minha estratégia dominical e passou a fazer o mesmo. Tornou-se uma rotina. Os quatro na cama, aos domingos de manhã. Quando já não havia mais sono, alguém mencionava as palavras mágicas "pequeno-almoço". E como eu adorava os pequenos-almoços de domingo...eram os únicos em que havia tempo para saborear torradas exageradamente lambidas de manteiga, que o meu pai fazia enquanto contava anedotas.
Não me lembro da última vez em que estivemos todos juntos na cama, ao domingo. Sinto, subitamente, uma vontade enorme de abrir a porta do quarto dos meus pais e de ocupar o espaço na cama entre eles. Em vez disso, desço para a cozinha e faço as minhas próprias torradas. Sem anedotas. Quase sem manteiga. Como-as. Sozinha.