17.4.09

Conversas de jardim

"Um dia vou ser feliz, não vou?"
"Pode ser já hoje."
"Hoje não. Tenho uma comichão danada no dedo do pé."
"E isso impede-te de ser feliz?"
"Não. Mas impede-me de correr toda nua pelos prados a proclamar a minha felicidade."
"És miserável, sabias?"
"Mas um dia vou ser feliz."

Momento Oreo



Dou por mim a pensar em como deixei de ser capaz de apreciar pequenos momentos da vida. Momentos bonitos que derretem na alma como chocolates na boca. Falta de tempo? (Tretas.) Falta de inspiração, talvez. Mas sinto-me um tanto vazia sem eles. Sem o prazer de passar as mãos por um caderno novo a cheirar a fábrica, ou sem o baque-baque de um coração apaixonado. Sem...morangos com iogurte.
Um dia alguém me disse que "A vida são pormenores. A verdadeira felicidade não dura mais que uma hora!". Virei costas e roí o lábio superior numa tentativa de esconder o riso. Agora, no embalo das minhas quatro paredes soturnas e da minha música de cabeceira dou-lhe razão.
Mas o que me faz mesmo falta neste momento é uma Oreo para molhar no leite.

3.4.09

Rotina matinal



Acordo com um beijo frio na testa, ao som de três notas desafinadas de guitarra. Os meus pés descalços despertam o chilrear da madeira e assobio um acompanhamento improvisado em mi maior. Passeio o corpo semi-nú pela casa e dou pequenos goles no leite frio, simples. Sento-me em frente ao armário aberto e passo as costas das mãos pela roupa, como quem percorre as teclas de um piano, até saber o que me apetece vestir. Normalmente, opto por vestir o que a minha mãe chama de "Roupa sem jeito nenhum"; tradução: fato de treino velho e sujo.
- Vou lá fora!
- Fazer o quê?
- Correr por aí.
E vou. Desejo poder fechar os olhos enquanto corro, sentir cada osso dos pés pousar no asfalto, ouvir cada uma das milhões de recções que ocorre em cada uma das milhões de células do meu corpo. Sentir o sangue a banhar os tecidos musculares. Observar como o peso se distribuiu uniformemente pelos membros que baloiçam com o vento gélido matinal. Inspira, expira. Não há senão um corpo livre e despreocupado, até que as pernas me doam tanto que tenho de cair para a relva molhada de orvalho.
As manhãs sabem-me bem. Prefiro-as como leite: frias, simples.

2.4.09

Há pessoas que me enojam.