Uma última pirueta, dois alongamentos e a aula acabou. Para ela não. Depois do suor e dos insultos, depois das cãimbras e feridas nos pés, depois das quedas e nódoas negras ela fica a sós com o espelho. Nua e descalça dança ao som dos seus próprios passos enquanto o resto do mundo fuma um cigarro. Agora caiu... Já está de pé.
No mais íntimo de todos os movimentos, os seus membros moldam-se à dor que quase não sente. O corpo arqueado, as linhas perfeitas e a elegância dos gestos pueris enchem o estúdio de sustenidos e bemóis para formar uma escala desconhecida. Não há ninguém. É como se dançasse no fundo do mar: os braços envolvem a água e os pés beijam a areia; um diálogo de sensualidade entre ela e o infinito.
O tempo passa, os músculos morrem e ela deixa de poder dançar. Mas ainda é bailarina. Lá fora, os cigarros apagam-se. E eles acendem outro.
No mais íntimo de todos os movimentos, os seus membros moldam-se à dor que quase não sente. O corpo arqueado, as linhas perfeitas e a elegância dos gestos pueris enchem o estúdio de sustenidos e bemóis para formar uma escala desconhecida. Não há ninguém. É como se dançasse no fundo do mar: os braços envolvem a água e os pés beijam a areia; um diálogo de sensualidade entre ela e o infinito.
O tempo passa, os músculos morrem e ela deixa de poder dançar. Mas ainda é bailarina. Lá fora, os cigarros apagam-se. E eles acendem outro.