Acordo com um beijo frio na testa, ao som de três notas desafinadas de guitarra. Os meus pés descalços despertam o chilrear da madeira e assobio um acompanhamento improvisado em mi maior. Passeio o corpo semi-nú pela casa e dou pequenos goles no leite frio, simples. Sento-me em frente ao armário aberto e passo as costas das mãos pela roupa, como quem percorre as teclas de um piano, até saber o que me apetece vestir. Normalmente, opto por vestir o que a minha mãe chama de "Roupa sem jeito nenhum"; tradução: fato de treino velho e sujo.
- Vou lá fora!
- Fazer o quê?
- Correr por aí.
E vou. Desejo poder fechar os olhos enquanto corro, sentir cada osso dos pés pousar no asfalto, ouvir cada uma das milhões de recções que ocorre em cada uma das milhões de células do meu corpo. Sentir o sangue a banhar os tecidos musculares. Observar como o peso se distribuiu uniformemente pelos membros que baloiçam com o vento gélido matinal. Inspira, expira. Não há senão um corpo livre e despreocupado, até que as pernas me doam tanto que tenho de cair para a relva molhada de orvalho.
As manhãs sabem-me bem. Prefiro-as como leite: frias, simples.
10 comentários:
oh, é tao agradável ler isto.
adorei o remate do texto, impecavel :)
és recheada, Zita. :p
(l)
As manhãs sabem-me bem. Prefiro-as como leite: frias, simples.
sabe bem ler-te.
que tranquilidade que senti ao ler o texto!
Agora vejo como me podes ensinar a voar :b
Mas isso eu já sei, e é fantástico sentir o que transmites no texto. Senti-o como se fosse eu a escrever. :D
Beijinho Zita*
WOW :| simples, sem dúvida *
Obrigado :)
Pensava que já tinha comentado este, já o tinha lido, enfim.
Adorei-o, mesmo!
esperava que me dissesses, coração.
Escreves muito bem!
Parabéns.
um abraço
pena que o dia não se resume à manhã.
[]
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